O futuro da terceirização: a maior transformação econômica de todos os tempos

Leonardo Reis Vilela

25 agosto 2017 - 17:09 | Atualizado em 29 março 2023 - 17:32

Pessoas sorrindo escutando mulher em reunião em escritório

Desde a Segunda Guerra Mundial, o comércio e a tecnologia têm se expandido rapidamente. Mais tecnologia levou a mais comércio – o que, por sua vez, fomentou o desenvolvimento da tecnologia e contribui para o temor crescente quanto à terceirização.

Com o avanço da tecnologia nos anos 1960, os americanos começaram a temer a perda de empregos no chão de fábrica. Novamente, ao final dos anos 1960, tememos a perda de empregos administrativos. Hoje, tememos a perda de empregos online (da era digital): design gráfico, desenvolvedor web, tradução e transcrição que estão feitos fora dos Estados Unidos.

Mas, toda vez que a tecnologia aumentou o comércio, os dados mostram que não havia nada a temer. A terceirização foi boa para as pessoas no passado, e a terceirização online será boa para as pessoas no presente.

Terceirização em massa

Historicamente, a tecnologia sempre gerou mudanças no mercado de trabalho, levando ao aumento da produtividade humana. A invenção do avião não substituiu os carros, mas permitiu às pessoas viajar para longe, criando conexões entre cidades e sociedades que não existiam antes.

Da mesma forma, a evolução da internet não resultou na robotização completa da economia, mas sim proveu/concedeu aos humanos às ferramentas requeridas para aumentar sua produtividade.

Por mais de dois séculos, a partir das obras de Adam Smith e David Ricardo, as pessoas reconheceram os benefícios do comércio em nível internacional. Ricardo se referia a isso como vantagem comparativa: mesmo quando um país é mais produtivo que outro em duas indústrias, cada nação deve especializar-se em um produto, adquirindo outros da outra.

A terceirização online é a manifestação moderna do comércio internacional, e deveria receber o mesmo apoio que os economistas concedem ao livre mercado.

Quando a terceirização transferiu empregos de manufatura para o exterior em 1960, as empresas controladoras contrataram, no agregado, mais mão-de-obra. Como a terceirização reduz os custos da firma, liberando recursos para investimentos em capital noutras unidades de negócio, a empresa é capaz de contratar mais trabalhadores. Da mesma forma, durante a segunda onda de terceirização no final dos anos 1990, quando as empresas americanas escolheram terceirizar o trabalho de back office para call centers na Índia, vimos um aumento no comércio e no emprego das filiais internacionais das empresas americanas.

A terceira onda de terceirização – terceirização online – está em andamento. Tal como as duas primeiras, ela é tanto boa para os indivíduos como para a economia. Sessenta e oito milhões de pessoas nos Estados Unidos estão engajadas em arranjos laborais alternativos – aproximadamente 27% da população economicamente ativa. Mais importante, quase 129 milhões reportam que prefeririam ter empregos independentes. E com a terceirização online, é provável que isso aconteça antes que pensam.

Mudando a forma como trabalhamos

Usando a Amazon, Mechanical Turk, Upwork ou qualquer uma das centenas de plataformas online, você pode fazer dinheiro só com um PC e uma conexão à internet. Esses gigs (trabalhos online) podem ser tão simples quanto transcrever o texto da foto de um comprovante por US$ 0,02 centavos/minuto, ou realizar trabalho gráfico avançado que paga um valor de US$ 200/hora.

Com o barateamento da tecnologia e o aumento da conexão à internet unido à terceirização online, pessoas de nações pobres serão capazes de sobreviver com mais facilidade.

No futuro próximo, com a expansão da terceirização online, o trabalho continuará a ocorrer primariamente via internet, e as plataformas tecnológicas permitirão a compradores e vendedores contratar serviços por meio de leilões dinâmicos e contínuos. Corporações não precisarão mais contratar MOD em tempo integral (no regime de home office) que conduzem todas as tarefas sozinhos, mas esses terão contato direto com uma rede global de MDO sob demanda. Essa terceira onda de terceirização abrirá novos caminhos de produtividade, expandirá a oportunidade econômica ao redor do mundo, e mudará a natureza do trabalho.

Os mercados de trabalho online são misturas de mercados e tecnologia. Eles demandam ampla gama de habilidades tanto em economia como em ciência da computação. Independentemente de se essa demanda é para o indivíduo que tem competência em ambas as áreas, ou para muitos indivíduos que tem competências sobreposta, é impossível saber por agora.

Empregadores do future requererão conhecimento na construção de plataformas tecnológicas calibráveis para as condições de mercado, por exemplo, capazes de medir o desempenho humano, e cujos dados têm de ser inseridos na inteligência econômica que administra a plataforma. A participação no mercado de trabalho online exigirá habilidades pelo lado da demanda do próprio mercado.

A terceirização online não é igual às anteriores

A terceirização online difere de suas predecessoras de três formas: (a) a Internet levou à desintermediação de transações. A era do intermediário acabou. Embora estejam geograficamente distantes, com a prevalência da internet, empregados e empregadores estão mais próximos que nunca.

Segundo, o aumento da conectividade global à internet torna essa onda de terceirização a mais benéfica para trabalhadores pobres. Nos próximos anos, bilhões de pessoas estarão online. A distribuição de renda global sugere que esses novos usuários contribuirão com trabalho, em vez de capital, para a economia global. Dada sua baixa renda, é improvável que se tornem grandes consumidores e, portanto, não são a audiência usual da publicidade veiculada por Google e Facebook. Em vez disso, eles levarão seu trabalho ao mercado global. Novas empresas surgirão para mobilizar esse capital humano. O capital humano online será a maior transformação econômica que o mundo já viu.

Terceiro, essa onda de terceirização traz consigo uma mudança na forma de remuneração – de baseada no input (entrada-mão de obra) para baseada no output (saída-produção/resultado). O pagamento baseado no input descreve a maior parte das formas de compensação para o trabalho físico, cara a cara. Os trabalhadores recebem um salário com alguns benefícios adicionais.

O pagamento baseado no output refere-se ao pagamento pela performance do trabalhador. Esse pode tomar a forma de opções sobre ações para o CEO ou um valor/unidade produzida para o trabalhador da fábrica. O ambiente remoto da internet fomenta o pagamento baseado em output. Isso levará a eficiências significativas.

Hoje não é só a tecnologia que nos beneficia; podemos escolher desenvolver só tecnologias de máquina, ignorando a produtividade humana, ou podemos pensar mais holisticamente sobre o ambiente macro – o mix global de habilidade, educação, demografia, e interconexão – para pensar um futuro melhor. Isso não precisa ocorrer por razões de igualdade ou justiça, mas por pura eficiência econômica.

As bilhões de pessoas que se conectarão à internet na próxima década serão a transformação econômica de nosso tempo. Depende de nós como sociedade transformar tal panorama em oportunidade, maximizar o potencial humano e, valorizar o ativo valioso do mundo: nosso capital humano.

Artigo traduzido a partir da publicação original: The Future of Outsourcing: The Largest Economic Transformation Ever

Autores: Korok Ray

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