Cinco ameaças atuais à economia global

Leonardo Reis Vilela

09 outubro 2019 - 09:00 | Atualizado em 29 março 2023 - 17:29

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Katina Hristova explora as cinco maiores ameaças atuais à economia mundial.

Trump versus China

Nos anos 1930, os Estados Unidos introduziram a tarifa Smoot-Hawley que aumentou tarifas alfandegárias já elevadas, causando uma guerra comercial que, segundo diversos economistas, piorou a Grande Depressão. Com a ameaça de Donald Trump taxar em 10% o valor restante das importações chinesas (US$ 300 bilhões) ainda não taxadas, os mercados do mundo estão em alerta, e a questão que preocupa a todos é a seguinte: a história se repetirá? 

Em agosto, tentando retaliar contra a administração Trump, Pequim permitiu a desvalorização do yuan abaixo da marca simbólica dos $7. Economistas sugerem que essa manipulação monetária é uma tentativa da China de retomar a soberania na guerra comercial entre os dois países, já que desvalorizar a sua moeda poderia ajudar a compensar o efeito da longa lista de tarifas norte-americanas sobre bens chineses.

Na medida em que as medidas protecionistas se fortalecem e as relações Estados Unidos-China se deterioram, investidores e mercados demonstram crescente preocupação, mesmo que Trump tenha postergado a imposição de novas tarifas até dezembro. Uma guerra comercial total não seria uma boa notícia para ninguém e poderia enfraquecer seriamente a economia global, alertou o FMI, tornando o mundo “um lugar mais pobre e perigoso”. Espera-se que ambos os países enfrentem perdas de bem-estar econômico, enquanto países na periferia do conflito possam sofrer danos colaterais. Além disso, a não abolição dessas tarifas poderia gerar redução permanente na produção econômica, já que sinais de preços distorcidos comprometeriam a especialização que maximiza a produtividade global. A única certeza é que não haverá vencedores nessa guerra.

Ciberataques e fraudes

Nos últimos anos, milhões de dados pessoais foram vazados em consequência de violações de segurança cada vez mais frequentes em empresas e instituições públicas e privadas. Com a integração cada vez maior de tecnologias digitais em todos os aspectos de nossa vida, e por nossa dependência delas, o cibercrime é uma das maiores ameaças globais às empresas.

Ciberataques estão crescendo em tamanho, sofisticação e custos, já que violações de dados pessoais podem gerar grandes perdas. Em 2016, a Cybersecurity Ventures previu que o cibercrime custaria ao mundo US$ 6 trilhões anualmente até 2021, frente a US$ 3 trilhões em 2015. Segundo ela, “isso representa a maior transferência de riqueza econômica na história, compromete os incentivos à inovação, e é mais lucrativo do que o valor total do comércio global de todas as principais drogas ilegais.”

Crise dos mercados emergentes

Desde o início dos anos 1990, os mercados emergentes têm sido parte fundamental dos portfólios dos investidores, já que oferecem retornos sólidos e crescimento rápido: mas tensões no comércio global, dólar supervalorizado e altas taxas de juros estão sendo fatais para eles. Longe de alcançarem o mundo desenvolvido, muitos supostos mercados emergentes estão crescendo num ritmo lento, o que, combinado com a ameaça de uma guerra comercial global e com o aumento do custo dos empréstimos, fez os investidores pisarem no freio. Mercados emergentes estão sentindo a pressão e o impacto financeiro disso refletido em suas bolsas de valores.

Instabilidade política, desequilíbrios externos e políticas públicas deficientes que levaram a sérias crises monetárias em duas nações, Turquia e Argentina, foram o estopim para liquidação de posições no passado. Mas essas não são as únicas economias emergentes expostas a crises monetárias – segundo a EIU, algumas economias já estão na zona de risco e poderiam sofrer dos mesmos males, incluindo Brasil, México e África do Sul.

Se as crises monetárias na Turquia e na Argentina crescerem tanto a ponto de se tornarem crises bancárias, analistas preveem que investidores poderiam abandonar mercados emergentes ao redor do mundo. “O sentimento do mercado permanece frágil, e a pressão sobre os mercados emergentes como um todo poderia aumentar caso o apetite de risco do mercado se deteriore mais do que prevemos no momento”, explica EIU.

Crise climática

Nos últimos meses, a mídia tem sido inundada com reportagens sobre os terríveis riscos ambientais gerados pela crise climática da Terra, mas só estamos começando a analisar os efeitos econômicos catastróficas que podem acompanhá-la.

Apesar de grandes níveis de incerteza, os resultados de diversas análises e pesquisas variam. Um relatório do governo dos Estados Unidos de novembro de 2018 ventilou que o aquecimento do planeta poderia representar um grande impacto sobre o PIB global. O Stern Review, apresentado pelo governo britânico em 2006, sugere que isso poderia acontecer devido aos custos relacionados ao clima – como lidar com eventos climáticos extremos e conter crises em áreas ameaçadas pela elevação do nível dos mares. Podemos considerar os seguintes cenários:

  • Redução da produção agrícola devido ao aquecimento global e às secas.
  • Reconstrução de estradas destruídas por inundações causadas pela elevação do nível do mar ou furacões.
  • Construção de redes de energia mais eficientes porque as existentes não são capazes de aguentar condições climáticas extremas.

Devido à mudança climática, áreas de baixa altitude e sujeitas à inundação correm o risco de se tornarem inabitáveis, ou, pelo menos, fora da cobertura das seguradoras. Diversas indústrias em várias localidades poderiam fechar as portas. Espera-se que o mapa global da agricultura mude. Numa tentativa de adaptação, muitos podem preferir se mudar de áreas que serão afetadas por um clima mais quente.

No finas das contas, as implicações econômicas da maior ameaça ambiental que a humanidade já enfrentou variam, de grandes mudanças na geografia e na demografia, passando pela própria tecnologia.

Brexit

Temores de que o Reino Unido corre o risco de enfrentar sua primeira recessão em 10 anos têm crescido após estatísticas mostrarem uma contração de 0,2% no PIB do país entre abril e junho de 2019. Uma economia global mais frágil, somada a altos níveis de incerteza, significa que a atividade econômica do Reino Unido já estava lenta, mas o potencial do fracasso do Brexit e a incerteza geral em torno de sua saída da União Europeia, afetaram muito o mercado de ações antes da data original de saída em 29 de março, além de queda do investimento externo e fechamento de fábricas de automóveis, resultando na queda de 0,2% no PIB no segundo quadrimestre. Essa é a primeira queda no PIB quadrimestral que o país registrou nos últimos seis anos e enquanto se aproxima a nova data limite (31 de outubro), economistas se preocupam que isso poderia levar a um segundo quadrimestre consecutivo de crescimento negativo – o que é a definição padrão de recessão.

E embora se espere que as implicações do Brexit sejam sentidas apenas internamente, todo o processo do Brexit mostra os riscos potenciais da fragmentação política e econômica para a economia global: interações econômicas menos eficientes, fluxos financeiros coagulados e menos resiliência e agilidade. Como explica Mohamed El-Erian: “nesse contexto, o autosseguro particular virá a substituir alguns dos mecanismos compartilhados de seguro. Será muito mais difícil manter as normas e os padrões globais, e mais ainda perseguir a harmonização e a coordenação da política internacional.” Além disso, é provável que a arbitragem e regulação tributárias se tornem mais comuns, enquanto a política econômica se transforma em ferramenta de segurança nacional.

“Por fim, haverá mudanças sobre como os países estruturam suas economias”, continua El-Erian. “No passado, o Reino Unido e outros países se orgulhavam por ser “pequenas economias abertas” que poderiam alavancar suas vantagens domésticas através de intercâmbio rápido e eficiente com a Europa e o resto do mundo. Mas hoje, ser uma economia grande e relativamente fechada começa a parecer mais atraente. E para países que não têm essa opção – como pequenas economias do Leste Asiático – blocos regionais podem ser uma alternativa viável.”

 

Artigo traduzido e adaptado do original “The 5 Threats Facing The Global Economy Right Now”, de Katina Hristova no portal Financel Monthly.

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